Atestado de Óbito
Jaz no meio da sala um tal defunto
E entre os presentes rola o mesmo assunto,
Sobre a existência humana, tão falaz:
Que pode ter matado o tal rapaz?
Bem vivo e forte, de ferro a saúde,
E agora calmo dorme no ataúde?
Acharam-no sem nada ter no peito,
O coração havia se desfeito,
Todo o cérebro estava em gosma e lama,
Olhos em cinza por ignota chama;
Suas tripas em água convertidas,
As mãos e os pés, todos em feridas;
As ouças – dois buracos de tatu;
A venta inchada como um cururu;
A língua seca como um pergaminho
E a sua face com um a r mesquinho.
Alguém aqui em um problema aposta,
Outro retruca e não se resposta,
Todos cometem mais e mais vexames.
Faz o médico os últimos exames;
Nos primeiros, se foram eficientes,
Não vieram resultados convincentes.
O médico vem, entra então na sala,
E com a voz alta ao povo todo fala
Do caso inédito da medicina,
As causas reais da carnificina:
–Mesmo este pobre estando quase exangue,
Conseguimos um pouco do seu sangue;
Nele nós encontramos com peleja
Doses letais de uma substância: INVEJA!