COVID 19 CONTAMINANDO A POESIA

VIDA

Todo este desprezo pela vida

já me abalou profundamente.

A poesia, por aqui, já não circula.

Porque os gestos mais arrogantes

desses homens torpes,

fotografados e publicados em jornais,

filmados e mostrados na tv,

revelam suas almas frias e vazias.

A idolatria nociva e doentia

contaminou suas almas venais.

A malta alegre, detentora de falas verdades,

transforma gestos, atitudes palavras

em substâncias tóxicas, letais.

“Da janela lateral, do quarto de dormir”,

não vejo nenhuma igreja

e nenhum sinal de glória.

Avisto Júpiter, Saturno

e o Cruzeiro do Sul.

E a Lua cheia, bela e límpida.

Velhos sinais, velhos mundos desabitados

a nos olhar indefesos, com seus olhos inexistentes.

Triste Brasil!

Mas estou vivo, no meio de mortos e vivos – boçais -,

mortos para o mundo,

mortos para mim,

mortos para nós,

vivos para quem pensa estar vivo.

E atiro na terra o meu poema

e a minha semente de esperança

Eles sonham os sonhos mais sórdidos,

mais sádicos,

quando corpos contaminados, sufocados,

entregam suas vidas

a um deus omisso ou sem poder.

Todos escreveram uma história

que ecoará entre os seus.

Serão lembrados como heróis familiares

depois de toda a tempestade

que derruba impiedosamente todas as construções

que edificamos com o nosso saber.

Nelson Marzullo Tangerini.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 02/04/2021
Código do texto: T7221775
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