O Poço
Todavia, se por acaso viestes
A nadar num poço profundo…
Até a densidade mórbida como a misericórdia, descolorida
Onde corais, coloram, córneas
íris, olhares preponderantes de servo mortal
Imoral, oblíquo, sofrido e aproveitador de qualquer matéria
Como matéria: dissolvo-me, disseco-me ao relento!
Pratico a vaidade como quem pratica viver!
Com direito ao trêmulo abissal, tremulas, acentos e parábolas!
Cesso cada sombra sem contraste no meio social
Toco minha lucidez vital num contraponto de versos dançantes
Admiro... Admiro cada lacuna de infinitas extravagantes compostas!
Admiro também Narciso encontrando o seu narciso afogado
E cometas, quantos cometas, cometerás na infelicidade alheia?
Quanta água para cobrir minhas vergonhas, meu senso crítico desumano?
Na nascente turva de um poço que deságua minha natureza sem poço
E toda verdade desnutrida pelo alheio, pela vontade do seu universo
Por àquilo que só a ti pertence, numa pequena e cômica propriedade
Lavada e sórdida que você admite que é seu!