O Poço

Todavia, se por acaso viestes

A nadar num poço profundo…

Até a densidade mórbida como a misericórdia, descolorida

Onde corais, coloram, córneas

íris, olhares preponderantes de servo mortal

Imoral, oblíquo, sofrido e aproveitador de qualquer matéria

Como matéria: dissolvo-me, disseco-me ao relento!

Pratico a vaidade como quem pratica viver!

Com direito ao trêmulo abissal, tremulas, acentos e parábolas!

Cesso cada sombra sem contraste no meio social

Toco minha lucidez vital num contraponto de versos dançantes

Admiro... Admiro cada lacuna de infinitas extravagantes compostas!

Admiro também Narciso encontrando o seu narciso afogado

E cometas, quantos cometas, cometerás na infelicidade alheia?

Quanta água para cobrir minhas vergonhas, meu senso crítico desumano?

Na nascente turva de um poço que deságua minha natureza sem poço

E toda verdade desnutrida pelo alheio, pela vontade do seu universo

Por àquilo que só a ti pertence, numa pequena e cômica propriedade

Lavada e sórdida que você admite que é seu!

Otávio M Alves
Enviado por Otávio M Alves em 29/03/2021
Código do texto: T7218901
Classificação de conteúdo: seguro