Orações e período longo
Acordou cansado,
Soergueu-se suado,
Desceu desequilibrado,
Andou desamparado.
No espelho, viu-se barbado,
Lavou o rosto assustado,
Escovou os dentes enjoado,
Esguichou errado,
Era no vaso ao lado!
O chuveiro gelado...
Na mesa, o boleto amontoado,
Na geladeira o resto mofado,
Aquele pão seco o engolir sufocado,
O café mal tomado,
Pela garganta é esgoto encanado.
Da janela o olhar acinzentado,
Sem forma, sem traço esboçado;
A rua, as casas, o bairro desalinhado,
Segue feito embriagado,
Puxando o andar arrastado...
Pede ao condutor estacionado
Para ser mais uma vez suportado.
Sai do chão a máquina, o bicho encabritado
E vê seu rosto roto, o desgraçado,
No vidro embaçado.
Chegou ao ponto mencionado
E, como cão manco, saiu enxotado.
Sentou-se no banco desbotado,
Esperando da vida mais um bocado.