Somente Para Se Ler

Um pássaro sem asas voa

alegremente sobre a tristeza.

Há uma fúria entre gente que soa,

há uma podridão que revestem de beleza.

Um pássaro sem olhos vê

a escuridão dentro do coração

e a própria cidade se lê

indiferente a qualquer expressão.

Um pássaro sem bico canta

num silêncio tão sonoro

como o ódio infundado que se levanta

como um sentimento frio e espavoro.

Um pássaro deixa de ser pássaro

para se tornar por fim objecto.

E o objecto que não é pássaro

é poeta; morcego; toupeira; homem em concreto.

Vergílio de Sena