Casa Velha

Desci as escadas correndo, a chuva escorria intrépida pelos vidros e se esgueirava pelas beiradas percorrendo toda a rua paralela ao meio fim. As curvas escamoteavam a cegueira da neblina. O caminho passava frente aos meus olhos enquanto eu me aferrava aos passos, árduos.

Abri a porta do carro, parei após o quarto sinal, observava o tintilar das mudanças de cores me lembrei da infância das viagens com os meus pais, das idas tão almejadas a casa do meu avô, troquei a marcha, poucos metros a frente havia uma casinha velha, solitária e charmosa, ao lado havia uma longa escada que abraçava aquela casa, desbotada, antiga e misteriosa. Me detive a observar por algum tempo. No quintal um mato alvoroçado cujo o verde ressaltava devido ao tempo, no canto duas árvores cresciam sem podas e as flores lilás contrastavam com o cinza da parede descascada.

Uma borboleta grande e amarela voava por lá, estendi as minhas mãos, ingenuamente acreditei que por algum motivo ela iria pousar em minhas mãos ou em meus ombros, ela foi voando e me senti aliviada pois me lembrei que o meu avô me dizia que algumas borboletas quando tocadas podem cegar aos que as tocam para se defender. As pessoas caminhavam pelas ruas, se escutava rumores de que fechariam tudo, ditos que comparavam a realidade a um filme de terror, ao fim do mundo e os passos iam apressados, as máscaras já se tornaram parte de nós como uma proteção contra o que pode nos ferir ou nos matar.

Entrei no meu carro, do lado de fora uma senhora passava álcool nos braços e na cara, o medo estava do lado de fora e por todos os lados, o que eu não sabia há algum tempo é que doeria tanto do lado de dentro, respirei pesarosa, as lágrimas insistiam em escorrer pelos cantos dos olhos e por toda a minha face. O sinal ficou verde, uma buzina irrompeu o silêncio quase agoniante. Subi as escadas, era preciso seguir apesar da dor.

Vanessa Macedo
Enviado por Vanessa Macedo em 09/03/2021
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