SOB AS PONTES
Sob as pontes, habita gente
pessoas que choram e sangram.
Mas devia habitar gente
sob as pontes?
Como pessoas, sentem!
Como pessoas, têm fome
vivem a dor que os consome.
Sob as pontes, sofrem.
Sob as pontes, passam frio
amam e se desesperam
na dura noite, que exaspera
a desumanidade hostil
Sob as pontes, existem!
E embora seja impossível
passar sem percebê-la
essa gente é invisível
Devia existir gente
sob as pontes?
Sob as pontes, a pinga aquece
e espanta o frio violento.
Cada dose é um alento
para a alma que padece
num corpo ao relento
Devia haver corpo
ao relento?
Sob as pontes, faziam morada
pessoas sem uma morada
Ali debaixo, eles dormiam
ali embaixo, eles morriam
mas ninguém percebia
Devia morrer gente
ali debaixo?
Sob as pontes, agora há pedras
Quem já nem tinha casa,
agora não tem sequer ponte.
Ali, viver não tem graça.
Morrer? Morrer onde?
Deviam colocar pedras
na casa de quem não tem casa?