Jantares antropofágicos

Cadáveres alimentam-se de cadáveres

Em suas refeições necrofilas de gala.

A loucura instala-se sobre dementes e neuróticos,

Enxergam nuances contraditórias,

Celebram danças paralíticas,

Rezam para totens nulos

Carne alimenta-se de carne sem vida.

Mente inflando-se com sonhos inconsistentes

Um corpo nutre-se de outro corpo.

Demônios abstratos ganham vida

Em pesadelos intermináveis

Sugando a essência humana.

Não sou diferente de todos

À minha volta migalhas de homens

Identidades sobre identidades,

Revelam um ser esquizofrênico por natureza.

Natureza miserável camuflada com ouro.

Acotovelando-se por um espaço

Na terra prometida da inexistência.

Suicídios acontecem a pessoas vivas.

Corpos enterrados sobre corpos enterrados.

Ninguém aprendeu a morrer,

No entanto, todos morrerão.

Buracos miseráveis, discursos acintosos,

Esmolas, autoindulgências.

Sagrada é nossa terra e profanos são seus habitantes.

Penitencias e liberdade vigiada,

Quem somos nós? Quem sou eu?

Onde o psicopata errante escondeu as chaves da prisão?

Por que ele zomba de nós?

Sangue verte-se em lagrimas salgadas e acidas

O desespero transparece em suas falas.

Vontade de viver ou anseio por morrer rapidamente?

Como um trovão um relâmpago no céu

Que grita e depois se vai na eternidade

Essa noite, teremos sol e vaga-lumes às seis horas da tarde.

O eremita observa, se pergunta:

Devo gritar? Devo mostrar a eles o quanto seus anseios são masoquistas?

Devo destruí-los? Eles parecem se divertir com seus jogos insanos.

Numa nuvem de poeira os vaga-lumes o chamam,

Tudo está claro essa noite, assim é bom.

O eremita sentado sobre a montanha observa.

Jantares antropofágicos. Ele sorri.

Reflete sobre a inutilidade deste jogo.

Logo ele irá embora sem nunca ter sido notado.

Sua lanterna se apagará. Sua sabedoria se extinguira

Junto com ele. Não a necessidade de gritar, chamar a atenção.

Nenhum homem pode ser salvo se não quiser o ser.

Todos são livres para sofrer o quanto quiser

Chorar, gritar e sangrar o quanto quiser.

Sob as bênçãos de deus.