IMOBILIDADE

escuto as pessoas e tento ouvi-las,

mas o martelo, a bigorna e a foice

estão em mãos que labutam

e escutam abaixo e acima

do som assimilado pela maioria,

e mudo, atônito e imóvel,

como num pesadelo, tento falar,

esboçar, traçar o mapa

que pode trazê-las de volta

ao mundo real, surreal, em que vivem,

subordinadas ao irreal discurso

da minoria que manda, desmanda

e desmantela a rede tecida

pela maioria que, artesã,

costura, remenda, relembra e luta

pra refazer o complexo sistema

que continua a ser desfeito

pelo homem satisfeito que discursa

o discurso comprado, vulgar e barato

que escuta, assimila, não ouve...