Pesar Pelo Pretérito?
Que assaz adoecimento, novo, lhe acomete?
Qual isolamento eu, minúsculo, lhe imponho?
Qual saudade arrebata, a ti, passado enfadonho?
Que culpa, de fato, a mim compete?
Impossível ser porta de entrada essa narina
Que aspira uma vida tolhida de inspiração
Vosso trabalho exala o fardo e a alienação
Potencialidade agora é dor, cansaço e sina
A aspereza já é marca da boca que toco
Pois há certo castigo aos que lavram a terra
Ecoa ela o desespero que sob o sol, maior, berra:
Fruto, pão e água; há lisura em tudo que invoco
Este corpo que rasteja maculado
Carrega consigo o peso da ordem: fome!
Saciado está o veneno que a ti consome
Ele sim, em progresso leve e emancipado
Veja o cínico sufoco do encastelado
Grita a plenos pulmões o medo da má respiração
Ri da fuligem alheia enquanto mantém alvéolo são
Em leito de mercadorias e minerais, se vê aliviado.
Como posso ser eu capaz de lhe tornar infecto?
Seria proeza demais me nutrir do que se esvaiu
A vontade do patronato, antes de mim, urgiu
Imunizou o chão da fábrica, com seu sangue e intelecto
Portanto,
Não! Não sou de culpa elegível
Não há nada que minha vida inaugura
Só vê felicidade no passado a ametropia
Enfermidade é o normal, em sociedade de agrura
Que nada sorrateira, a humanidade surrupia
Enquanto sorri, espraiando morte indefectível
Sou mais um rebento do capital, este sim temível
Aproximo agora criador e criatura
Isolamento que se faz urgente é da entropia
Por decreto, que a saudade a lhe mover seja a futura
Que alguns denominam revolução e utopia
Única onde a sanidade, coletiva, é de fato exequível