DOIS MUNDOS NO MESMO MUNDO
Quem mora no condomínio fechado,
Não sabe o que é o meio da rua,
Não sabe o que é o bairro, a favela, a comunidade.
Quem vai pra festa e fica no camarote,
Não sabe o que é ser abordado pela violência do Estado.
Quem vai pra escola particular de carro, e com motorista,
Não sabe o que é pegar ônibus coletivo lotado,
Tomar chuva no ponto de ônibus,
Ter que acordar mais cedo pra ir pro trabalho.
Quem vai no shopping center, em Miami,
Comer aquele sanduíche de grife que tem gosto de isopor,
Não sabe que existe miséria,
Não sabe que existe fome,
Não sabe o outro sentido da palavra “precisão”.
Essas pessoas,
Que criaram muros e grades e câmeras de segurança,
Vigilância motorizada,
Não sabem o que é a vida fora da bolha,
Não sabem o que é a vida na mira da bala,
Pensam que a vida é somente bela.
E, por isto, não entendem nossas palavras,
Palavras de indignação, de cansaço,
Clamor por justiça.
Essas pessoas, que tanto falam de liberdade,
Vivem presas, nos seus mundos controlados,
Mas, têm um mundo confortável,
Dentro de suas ilusões,
E se esquecem que outros humanos
(Nós, talvez!)
Padecem pela falta de comida, de terra, de escola
De vida digna.