O menino

Sozinho deitado na cama de palha

Via passar pela fresta a réstia do sol

O ratinho que passeava na viga

Um prego na parede, linha e anzol

O dia amanhecia na fazenda da colina

O menino sabia tinha que se pôr de pé

Lá fora os bichos as lindas campinas

No ar o cheiro de lenha misturado com rapé

A criança, olhou pra mãe ao fogão

Preparava cuscuz, leite e ovo com farinha

Serviu lhe numa caneca e um pedaço de pão

Em outra travessa batata e uma galinha

Na varanda da fazenda meninos bem vestidos

A mulher as filhas o cachorro o patrão

O menino inocente ainda não entendia

Que naquele momento vivia escravidão

A fazenda era bonita, no terreno ao fundo, jazia

Os pretos enterrados, já na sexta geração

Era uma sina o destino que se tinha

Mas como mudar toda aquela situação?

O vento soprou com frescor de esperança

O menino cresceu o tempo pra ele passou

Agora era pai de mais de três crianças

Quando anunciaram que a escravidão acabou

Depois de muito tempo ele ainda não entedia

O porquê que tanto se falava dessa tal escravidão

Para ele não havia nem nunca sentia

O mais importante era servir o patrão

Mas o patrão já nas terras não o queria

Mandou pegar sua família e seguir a multidão

Então foi parar na cidade naquela noite fria

Só lembrava do pai com uma enxada na mão

Já na cidade procurava, mas emprego não tinha

Acostumado a cuidar da roça e da criação

Naquela terra viver não podia

Eram tratados pior do que cão

Precisava abrigar a família numa moradia

Andavam nas ruas trocha de roupa na mão

Quem os viam com medo fugiam

Uma família procurando um pedaço de chão

Não lhe restou outro lugar a não ser o morro

Construiu um barraco de zinco e papelão

Foi massacrado excluído do povo

E assim entendeu o que era a escravidão.

Carlos Duarte
Enviado por Carlos Duarte em 15/12/2020
Reeditado em 24/12/2020
Código do texto: T7136630
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.