O menino
Sozinho deitado na cama de palha
Via passar pela fresta a réstia do sol
O ratinho que passeava na viga
Um prego na parede, linha e anzol
O dia amanhecia na fazenda da colina
O menino sabia tinha que se pôr de pé
Lá fora os bichos as lindas campinas
No ar o cheiro de lenha misturado com rapé
A criança, olhou pra mãe ao fogão
Preparava cuscuz, leite e ovo com farinha
Serviu lhe numa caneca e um pedaço de pão
Em outra travessa batata e uma galinha
Na varanda da fazenda meninos bem vestidos
A mulher as filhas o cachorro o patrão
O menino inocente ainda não entendia
Que naquele momento vivia escravidão
A fazenda era bonita, no terreno ao fundo, jazia
Os pretos enterrados, já na sexta geração
Era uma sina o destino que se tinha
Mas como mudar toda aquela situação?
O vento soprou com frescor de esperança
O menino cresceu o tempo pra ele passou
Agora era pai de mais de três crianças
Quando anunciaram que a escravidão acabou
Depois de muito tempo ele ainda não entedia
O porquê que tanto se falava dessa tal escravidão
Para ele não havia nem nunca sentia
O mais importante era servir o patrão
Mas o patrão já nas terras não o queria
Mandou pegar sua família e seguir a multidão
Então foi parar na cidade naquela noite fria
Só lembrava do pai com uma enxada na mão
Já na cidade procurava, mas emprego não tinha
Acostumado a cuidar da roça e da criação
Naquela terra viver não podia
Eram tratados pior do que cão
Precisava abrigar a família numa moradia
Andavam nas ruas trocha de roupa na mão
Quem os viam com medo fugiam
Uma família procurando um pedaço de chão
Não lhe restou outro lugar a não ser o morro
Construiu um barraco de zinco e papelão
Foi massacrado excluído do povo
E assim entendeu o que era a escravidão.