A MISÉRIA QUE NÃO QUER SE ESCONDER
Os rastros da indigência, que exalam um odor de morte,
Maculam o cotidiano das ruas das cidades sem suporte,
Num panorama sombrio de muitas feridas profundas.
Pelas calçadas, surge um apelo de almas desamparadas
E o cansaço no rosto de muitas vidas marginalizadas
Já roucas no seu anseio por mudanças fecundas.
Ainda que muitos não queiram ver,
Ainda que muitos tentam desmerecer
A realidade horrenda que insiste em desmascarar
Toda a alienação cotidiana que não quer despertar,
A pobreza com todos os vultos de suas deformidades
Faz questão de escancarar o erro e também ferir
O orgulho daqueles que não a querem admitir.
Ainda que alguns tentem camuflar
O abismo social que destoa a harmônica beleza
De nossos monumentos históricos cheios de riqueza,
A indigência e a marginalidade de seres quase invisíveis
Berram para o mundo as suas dores mais perceptíveis,
Tirando do esquecimento toda a omissão
E trazendo à tona a fraude de quem quer encobrir
A sua má conduta co'uma fachada de boa administração.
A face da miséria nos semblantes oprimidos
Jamais faz questão de ficar oculta nos céus ensolarados
Das grandes metrópoles repletas de passos acelerados
E de seres indiferentes a dor dos exauridos
Pelo fantasma da desolação que cresce a cada dia
Com as manifestações de prostrações e tormentos
Pelas regiões cercadas de contrastes violentos.