grande sertão: sem veredas

aquelas janelas abertas

de pequenas casas de barro

pequenas vidas sem grandes vontades.

aquele pote seco sem água

aquela panela seca sem comida

pequenas vidas com humildes sonhos.

olhares simples de gente simples

olhares secos sem resquícios de lágrimas.

aquela terra vermelha, rachada, sem pastagem

sem flor, sem ventania, sem frutos

e as mãos calejadas de almas calejadas

e um adeus à vida sem oração

sem comunhão com a felicidade, sem veredas.

os pés rachados num chão grosseiro

aquelas janelas e portas velhas escancaradas

e o corpo estendido morto pela fome e pela seca

que esperava um milagre: um realizante de sonhos.

esperava um cheiro límpido d’água pura

o aroma ardente da comida temperada.

mas o resto? a falta de tudo até do nada.

Luciano Cordier Hirs
Enviado por Luciano Cordier Hirs em 06/10/2020
Código do texto: T7080869
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