grande sertão: sem veredas
aquelas janelas abertas
de pequenas casas de barro
pequenas vidas sem grandes vontades.
aquele pote seco sem água
aquela panela seca sem comida
pequenas vidas com humildes sonhos.
olhares simples de gente simples
olhares secos sem resquícios de lágrimas.
aquela terra vermelha, rachada, sem pastagem
sem flor, sem ventania, sem frutos
e as mãos calejadas de almas calejadas
e um adeus à vida sem oração
sem comunhão com a felicidade, sem veredas.
os pés rachados num chão grosseiro
aquelas janelas e portas velhas escancaradas
e o corpo estendido morto pela fome e pela seca
que esperava um milagre: um realizante de sonhos.
esperava um cheiro límpido d’água pura
o aroma ardente da comida temperada.
mas o resto? a falta de tudo até do nada.