A torneira está pingando
Hoje eu não queria ser voz, queria ser só ouvido e coração.
Ouvir o Tum e o tic-tac
A torneira está pingando... Mas não tem problemas, o ralo está livre, não haverá transbordamento.
Quero me ninar no tic, tac e tum. O som que me faz pulsar, que me faz acontecer e ir acontecendo, rumo ao ponto final, onde não se ouvirá mais o tic, nem o tac, menos ainda o tum.
Quando sou voz preciso falar dos cacos e dos retalhos que já foram inteiros, preciso me fazer entendida, falar pelos que se fazem de mudos e por aqueles que ainda não sabem juntar as sílabas...
Hoje eu queria ouvir outra voz que lutasse por nós, não! Não! Eu queria ouvir a voz da utopia e acreditar no que ela diz. Hoje queria lembrar que o tum é o coração batendo sem machucar, para pulsar, para pulsar...
A torneira continua pingando, tem mais barulho nessa sinfonia, não tem harmonia, não é música é confusão... O ralo continua livre, mas as gotas que por ele passam, podem não transbordar, mas farão falta mais tarde. Algum coração terá que parar antes de encerrar o tic-tac... Eu queria ser só ouvido, mas não basta, preciso ser voz, braços, pernas, olhos... Ser inteira!
“Em uma sociedade racista, não basta não ser racista, é necessário ser antirracista”. Como diz, Angela Davis