O Fogo

De sinapses com calor e proteção

Estalos na noite que não metiam medo

Era o crepitar dos galhos pedindo atenção

Mas dos causos não atrapalhavam o enredo

E ao redor do fogo a hora de dormir era empurrada

O limite do cansaço em verificação

Depois de todas as histórias bem lembradas

E cada qual já tinha dado sua risada ou opinião

E para aquele que estava em outro mundo

Das conversas que corriam, assaz alheio

O respeito pelo seu transe profundo

O fogo sempre nos convida ao devaneio

Pois em labaredas, se você olhar direito

Nas nuances de cores veras as dançarinas

E do mundo esquecerás o imperfeito

E nas faíscas, explosões de purpurina

P.S. a poesia poderia terminar aqui, mas queima em mim uma tristeza profunda e não consigo não seguir falando.

Mas a ganância queima nossa poesia

E agora é o fogo que nos rodeia

E nos conta histórias de eugenia

Dos que não se importam com a vida alheia

E biomas vão sendo destruídos

E nos vendem desculpas esfarrapadas

E a dor de ver tantos iludidos

Cérebros em estado gasoso, vistas embaçadas

Assim, banhados num ódio fabricado

Altamente inflamável e corrosivo

Combustão não espontânea do chamado gado

Inconsequentes e altamente explosivos

E hoje com tristeza olho o fogo

Será que seremos salvos desta d..graça

Num prognóstico para o fim do jogo

O vislumbre de cinzas e fumaça

Este incêndio quer consumir minha esperança

Que, teimosa, num fio ainda flama

Quero deixar para meus filhos de herança

A luta em manter acesa esta chama

Que bruxuleia como uma vela

E na impotência me arrasta para uma oração

Que sejam poucas as mazelas

Das feridas que inflamam meu coração