Tempos de resistência
Cresci em tempos sombrios,
Quando as pessoas aceitavam a imposição sem questionar.
A igreja dizia que Deus acolheria no paraíso só os comportados,
E mesmo com as costas marcadas as pessoas aceitavam,
Aceitavam como um conforto, um refúgio.
Eram tempos difíceis,
Os cidadãos de bem não aceitavam a diversidade,
E foi assim que pela moral e os bons costumes,
Que diretamente ou indiretamente mataram muitos de nós,
E a justiça que já era cega, tornou-se surda e muda diante das injustiças.
Cresci em tempos de desumanidade,
Quando as tecnologias dominavam os seus criadores,
Uma vida valia menos que uma foto,
E a classe empobrecida tornou-se menos que uma mera mercadoria.
Eram tempos de caos,
Nas ruas desfilavam toneladas de aço,
As pessoas não se olhavam nos olhos apenas nas roupas,
Os carros e as roupas eram o mais importante.
Vivi em tempos de lutas,
No campo de batalha havia duas classes,
Enquanto uma queria destruir o poder para acabar com a dominação,
E viver com dignidade destruindo toda forma de opressão.
A outra queria manter-se a todo custo no poder,
Para seguir com seu projeto de exploração,
Matando tudo e todos em nome da civilização.
Eram tempos de uma enorme crise,
E com tamanha incerteza do futuro,
Que não havia tempo para pedir perdão,
Só restava tempo para viver todos os dias como o crucial para a revolução,
Construindo no campo e na cidade grupos de resistência,
Dando autonomia para os sujeitos a partir da politização.