A BOCA AMARGA
 
A boca amarga em busca da água pura
Enquanto puxo para dentro da caverna
Tudo que sobrou desse apocalipse maldito
Nos dias concedidos sob os sóis desiguais
 
Os olhos secos vasculham cada canto
Encontrando escorpiões e outros monstros
A melhor chance de viver foi o último minuto
Mas agora o ácido esbofeteia o meu rosto
 
Entro dentro desse círculo uivando terrores
Minha cabeça dá mil voltas em segundos
Miro direto na última lata de salsicha vencida
O estômago agora desconhece a arte da culinária
 
Os pés, cansados, não querem deixar pegadas
Para que eu possa seguir a cada dia uma trilha
E buscar aventuras em outros pontos cardeais
No meu jardim só rosas-do-vento não bastam
 
Mas onde buscar algum sentido no meio do amarelo?
E pescar no rio de poeira diante do meu olhar fétido
A boca amarga em busca da água pura resmunga
E cospe a bile que  me dava esperança para seguir

 
Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 13/09/2020
Reeditado em 13/09/2020
Código do texto: T7062083
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