João, faz isso não!
Isso é hora de beber coca, João?
Sua filha pede um pão.
Seu irmão, um irmão.
E sua digníssima pede um filho.
Isso é hora de ir embora, João?
Sua nega te ama.
O João Júnior também.
Seu vizinho quer te matar,
mas tem nada não, conversas.
Se bem que José te falou:
"- Não bula com mulé alheia."
Oh, João, acorda, meu irmão!
Vai, veja que horas são!
É hora de trabalhar,
a família pede por comida!
João Júnior pede um biscoito!
Joana pede uma jóia.
E a sua nega pede um vestido.
Acorda, João.
Está frio, mas é noite de São João.
José diz saber tocar violão.
Que isso João?
Pare de reclamar da vida.
É ela que tem motivos de sobra
para reclamar de você.
Calma, João, não se estresse não!
Apesar de tudo ainda há esperança, como não?
O Brasil, perdeu a Copa,
Mas o nosso Fogão anda bem das pernas.
Se tudo der certo seremos campeões.
Mas, João, faz isso não!
Pense nos seus filhos,
pense nas suas mulheres,
pense na sua mãe, que está bem velhinha.
Faça isso não, João.
Mesmo contudo contra
ainda é possível viver.
Falta a dignidade, falta o trabalho,
falta o arroz e falta o pão.
Mas o amanhã nos guarda o novo,
por mais que pareça um filme repetido!
Brasília, 28.06.07