A QUARENTA ACABOU?
Quarentena??
Como assim acabou?
Pra favelado nunca teve quarentena não, doutor!
Porque eu não pude ficar em casa, excelência
O pão na mesa têm sido preferência e
Sabe como é, né?!
O pobre não ficou sem trabalhar um dia sequer.
E se não for pedir muito,
Sai da minha frente, por favor!
O trampo lá fora tá me esperando, doutor.
E se a gente não sai pra trampar,
Pode ter certeza que a noite não vai ter jantar!
Você tá achando cruel?
O auxílio até ajudou,
Mas foi a conta do aluguel.
E ainda pergunta se eu não tenho medo de morrer?!
Na mente do pobre, sabe que medo mais o consome?
É ficar sem trabalho e os filhos passarem fome.
E nesse caos a gente sobrevive
Agarrados à nossa fé, à nossa crença
E ainda quer que a gente decida
Morrer de fome ou de doença?
Não tem ninguém por nós não, doutor!
É cada um por si
E a gente ainda crê.
O que não pode é desistir,
Se deixar vencer.
Mas nós sentimos a humilhação
Enquanto a gente rala,
A burguesia pede pra ficar em casa
Com o celular na mão.
Me poupe né?!
Eu não sou da classe alta!
Eu tenho que me virar!
E mesmo com pandemia
Temos que sair todo dia
Pra não ser mais um inútil
Nessa sociedade fútil
Que só quer nos exterminar.