A QUARENTA ACABOU?

Quarentena??

Como assim acabou?

Pra favelado nunca teve quarentena não, doutor!

Porque eu não pude ficar em casa, excelência

O pão na mesa têm sido preferência e

Sabe como é, né?!

O pobre não ficou sem trabalhar um dia sequer.

E se não for pedir muito,

Sai da minha frente, por favor!

O trampo lá fora tá me esperando, doutor.

E se a gente não sai pra trampar,

Pode ter certeza que a noite não vai ter jantar!

Você tá achando cruel?

O auxílio até ajudou,

Mas foi a conta do aluguel.

E ainda pergunta se eu não tenho medo de morrer?!

Na mente do pobre, sabe que medo mais o consome?

É ficar sem trabalho e os filhos passarem fome.

E nesse caos a gente sobrevive

Agarrados à nossa fé, à nossa crença

E ainda quer que a gente decida

Morrer de fome ou de doença?

Não tem ninguém por nós não, doutor!

É cada um por si

E a gente ainda crê.

O que não pode é desistir,

Se deixar vencer.

Mas nós sentimos a humilhação

Enquanto a gente rala,

A burguesia pede pra ficar em casa

Com o celular na mão.

Me poupe né?!

Eu não sou da classe alta!

Eu tenho que me virar!

E mesmo com pandemia

Temos que sair todo dia

Pra não ser mais um inútil

Nessa sociedade fútil

Que só quer nos exterminar.

Verônica Chaves
Enviado por Verônica Chaves em 24/08/2020
Código do texto: T7044726
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.