Ainda (h)a Escravidão
Sem alma não vinga,
Palavras de um cristão,
Então correntes aos pés
Caçados, navio e porão.
Comida é sobra e resto,
Resiste doente ou não,
Futuro viver ao incerto,
Longe da própria nação.
Quando a morte chega,
Liberta sempre um irmão,
E para todos aqueles que ficam,
Argolas de um grilhão.
Cruel é a viagem,
Destino não sei,
O tempo não passa,
Contar já cansei.
Chegam a um país,
Que os brancos chamam de Brasil,
Aqui onde o chicote estrala,
Castigo por não ser serviu.
Servidão ao "meu senhor",
E como prêmio é a senzala,
Curral humano de horror,
Luta diária sem batalha.
Aos jovens o que resta é a fuga,
Aos velhos a servidão,
Quilombo é liberdade,
Para os filhos da escravidão.
A lei Áurea foi assinada,
Aos pretos a liberdade,
Mas nunca proporcionou,
Tão sonhada igualdade.
Amontoados em favelas,
Vidas em comunidade,
De comum o esquecimento,
E o rótulo de bandidagem.
Não querem pretos no poder,
Preferem em uma prisão,
"Preto tem que trabalhar,
Sem direito a educação".
Liberdade imaginária,
Ainda a nossa caça, o capitão,
Quem nos deve nunca paga,
Troca-se trabalho por pão.
E a gente se esconde,
De bala perdida,
Quem diferencia,
Bandido ou polícia?
Poder paralelo,
Facção ou milícia,
Se rende às ordens,
Ou preço é a vida.
Tá lá o João,
Caído ao chão,
Família agoniza,
Buscando justiça.
Para mente doente,
Foi higienização,
Se pudessem voltavam,
Com a escravidão.