Incoerente

Não te quero para disfarçar a vida, 
na fina intenção de compor
o ciclo que se fecha ao redor.
Enfim, não te quero.
Nada basta que abasta.
Tudo é neutro, vazio na piscina sem água.
Não há azul pelo olhar,
nem boca que sorria pelo susto da vida.
Não te quero nem na cama,
exposta a toda violência da ocasião,
sem motivo, onde não fala a razão.
Não há querer que me faça
erguer o brinde que não haverá,
nem compor tua blusa aberta
calando tua boca pela lua,
naquele beijo provocado que não aconteceu.
Não posso ter posses inéditas
que venham na surpresa do momento,
falam na melancolia, bem
cativam a filosofia,
pelos olhos que veem
o brilho espantado que deixei cair
no chão que pisaste,
na relva que deitastes,
no orgulho que se rendeu ao capricho,
querendo só por querer,
desviando o encontro ao ponto erótico,
totalmente absorvido pelo não,
a negativa que forçou a insensatez
quando já exposta toda nudez,
se fazia vitoriosa.
Só que eu não te quis, não te quero.
És uma sombra sob as luzes da noite
absorvendo o impuro ritmo
na dança maliciosa.
Saiba, não te quero para afetar
a solitude egoísta
ou talvez uma suposta vaidade
de ter sido, antes de procurar.