REPRESÁLIAS
Temendo represálias
Sorri sem dar opinião
Pra evitar confusão
Junta suas tralhas
Trapinhos, colchão,
Par de sandálias
Chinelos de dedo
Caixas de papelão
Morto de medo
Segue seu caminho
Levando sua solidão
Temendo represálias
Finge dormir esgotado
Um olho fechado
O outro aberto
Ouvido atento
Cabeça coberta
No fio da navalha
Na noite deserta
Esse frio, esse vento
Correr pra que lado?
Se houver lado certo
Estará sempre errado...
Temendo represálias
Nunca reclama
Da fome que aperta
Da falta de cama
Cada dia uma batalha
Breves momentos de paz
Que diferença isso faz
Se na correria da cidade
Ninguém lhe tem saudade
Ele, indigente, apenas atrapalha
E sai ligeiro da frente
Temendo represálias