POESIA (ou Flor do asfalto)
Eles tentaram, mas eu não morri!
Estou viva!
Quando o coração se faz em retalhos,
Costuro em espiral,
bordados de alegria e dor
mesclando de barroca beleza
a remendada esperança.
Broto do sangue das ruas,
tingindo de grafite os muros.
Sou raios de luz nas mãos santas
que alimentam e aquecem os ninguéns,
dando-lhes, através do olhar,
a primeira carteira de identidade.
Sempre haverá o sol de um poema
na garganta da madrugada:
faca afiada dos desvalidos,
denunciando a covardia
pálida dos tiranos
que reproduzem
em silêncio
a tragédia da desigualdade,
usando,
dia após dia,
as brancas botinas da indiferença.