POESIA (ou Flor do asfalto)

Eles tentaram, mas eu não morri!

Estou viva!

Quando o coração se faz em retalhos,

Costuro em espiral,

bordados de alegria e dor

mesclando de barroca beleza

a remendada esperança.

Broto do sangue das ruas,

tingindo de grafite os muros.

Sou raios de luz nas mãos santas

que alimentam e aquecem os ninguéns,

dando-lhes, através do olhar,

a primeira carteira de identidade.

Sempre haverá o sol de um poema

na garganta da madrugada:

faca afiada dos desvalidos,

denunciando a covardia

pálida dos tiranos

que reproduzem

em silêncio

a tragédia da desigualdade,

usando,

dia após dia,

as brancas botinas da indiferença.

Stella Motta
Enviado por Stella Motta em 14/07/2020
Reeditado em 14/07/2020
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