voyeur

a cidade está nua

suas verdades estão à mostra

uns se excitam

outros têm medo

querem cobri-la

a cidade ergue-se

em pelo

e silêncio

exibe suas putas

seus mendigos

um filho sem nome

caído

convulsiona a noite

olhos e asco

se reviram

mas não há volta

a cidade despiu-se das rotinas

prova a liberdade

e gosta

em uma janela rubra

uma mulher sorri-alívio

sob a marquise urina

os meninos invisíveis se mostram

a cidade nua lhes afaga

com estranheza e consolo

reverbera madrugada

nos ossos dos inocentes

igualmente nus

filhos anônimos da cidade

enfim ascendem

fluxo exponencial

números bastardos

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Poema publicado na Antologia Ócios no Ofício

Editora Venas Abiertas, Belo Horizonte/MG, 2020

página 22

ISBN 978-65-86656-03-9