DEBAIXO D'ARMA

Debaixo d’arma tudo era dolorido

Do fuzil um estampido

“Não consigo respirar”

Mas tinha que respirar

Debaixo d’arma, humilhado e abjeto

Espancado, execrado, com frio, com medo

Sem defesa, dignidade ou a quem clamar

Esperando o disparar

Todo dia

Todo dia, todo dia

Vários pretos,

todo dia

Debaixo d’arma por engano, sem defesa, aos prantos

Sem alento e sem saber quando

O fuzil ia disparar

Mas ia disparar!

Debaixo d’arma vivo constantemente

Sou culpado, mesmo sendo inocente

E “não consigo respirar”

Mais um irão matar

Todo dia

Todo dia, todo dia

Vários pretos,

Todo dia

Debaixo d’arma coagido, um alvo, em perigo

Alvejado sem perdão e sem pecado

Com fome, com frio, com medo, só a vontade de lutar

“Não consigo respirar”

Debaixo d’arma, ouvindo um estampido

Em meio a um alarido

“Não consigo respirar”

Mais um irão assassinar!

Todo dia!

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Este poema utiliza a estrutura de "Debaixo d'água", de Arnaldo Antunes.

Vininha Moraes
Enviado por Vininha Moraes em 03/06/2020
Código do texto: T6966811
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