DEBAIXO D'ARMA
Debaixo d’arma tudo era dolorido
Do fuzil um estampido
“Não consigo respirar”
Mas tinha que respirar
Debaixo d’arma, humilhado e abjeto
Espancado, execrado, com frio, com medo
Sem defesa, dignidade ou a quem clamar
Esperando o disparar
Todo dia
Todo dia, todo dia
Vários pretos,
todo dia
Debaixo d’arma por engano, sem defesa, aos prantos
Sem alento e sem saber quando
O fuzil ia disparar
Mas ia disparar!
Debaixo d’arma vivo constantemente
Sou culpado, mesmo sendo inocente
E “não consigo respirar”
Mais um irão matar
Todo dia
Todo dia, todo dia
Vários pretos,
Todo dia
Debaixo d’arma coagido, um alvo, em perigo
Alvejado sem perdão e sem pecado
Com fome, com frio, com medo, só a vontade de lutar
“Não consigo respirar”
Debaixo d’arma, ouvindo um estampido
Em meio a um alarido
“Não consigo respirar”
Mais um irão assassinar!
Todo dia!
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Este poema utiliza a estrutura de "Debaixo d'água", de Arnaldo Antunes.