MÁSCARAS
Como as coisas mudam...
O que ontem era dado adquirido,
é hoje refutável!
Ontem achávamos
que deviamos ser mais sociáveis,
hoje achamos
que não podemos.
Nem sequer equacionamos
ser menos sociáveis.
Corta-se o mal pela raíz e pronto.
Ontem mudava de passeio
para cumprimentar um amigo.
Hoje mudo de passeio
para me afastar do amigo.
Ontem levava os netos
para casa dos avós.
A convivência entre ambos é salutar.
Hoje afasto-os...
para proteger os avós!
Ontem, ser sociável
era o que se esperava de todos nós.
Fazia bem á alma.
Apaziguava o espírito.
O contrário era ser bicho do mato.
Hoje, ser bicho do mato é bom,
pode salvar-nos a vida.
Apreocupação hoje
é com a etiqueta respiratória.
Tossir e espirrar para o cotovelo
ou um lenço descartável,
depositar imediatamente no lixo
e desinfetar as mãos.
Ontem, não nos passava pela cabeça
que iríamos ter de viver,
sabe-se lá por quanto tempo,
escondendo a cara
com o uso de máscara,
aliás regra obrigatória.
Quando por ventura
viamos alguém usando-a,
apelidávamo-lo de excêntrico
de exibicionista, etc etc.
Veio-me á ideia Michael Jackson
Que Deus o tenha em descanso.
Os antigos diziam
não cuspas para o ar,
que te pode caír na cara
e não é que caíu mesmo?
Ninguém conhece o futuro, só Deus.
A propósito de prever o futuro,
no final do ano transacto,
vários renomados astrólogos e videntes
fizeram as suas previsoes.
Todos auguraram um ano esplêndido,
cheio de bonança
e ele aí está, cheio de “coronas”,
o pior pesadelo das nossas vidas.
Um mundo de mascarados amedrontados
enfrentando severas carências.
Ontem as máscaras
estavam conotadas com o carnaval,
hoje é um adereço de segurança.
Poupa-se em baton,
gasta-se em máscaras.
Fazer máscaras de proteção
tem sido a minha ocupação diária.
Eu acredito que os estilistas
vão passar a introduzir a máscara
nas suas tendências de moda!
Que grande reviravolta que o mundo deu.
Nada voltará a ser como era dantes.
As coisas más,
pouco importa que se percam,
mas as boas...
Como as manifestações de afecto,
realmente é uma pena !
Como as coisas mudam...
O que ontem era dado adquirido,
é hoje refutável!
©Maria Dulce Leitao Reis
25/04/2020