JUSTIÇA EM CLAMOR
Eu não tenho a intenção
De a ti desagradar
Mas lhe digo meu patrão
“Vou agora te cobrar”
Quero justiça ao meu povo
E não peço. Agora mando
Vou trazer pro interior
Todos os que sofrem em bando
Quem tem muito distribui
Quem não tem, dá o seu braço,
Seu favor e seu respeito
Sua alma em bagaço
Já houve muito sangue
Humilhação teve a granel
Respeitavam nem criança
Surrada, marcada em bordel
Tanto Santo trabalhava
Sol a sol sem ter tostão
Que seu amor magro secava
Ódio brotava do coração
A filha caía na vida
O sangue do pai, cachaça
A mãe lavava pra fora
Sonhando com dinheiro, na desgraça
E a desgraça cuspia trovão
Se não era estupro, era morte
Se não roubava, cadê o pão?
Só rico e doido é que via a Sorte.
Então, vou agora cobrar
Meu direito de viver
Se o patrão não quiser dar
Vou aprender, como eu, o que quer dizer morrer!
Vai viver a minha vida
Pra ter um discernimento
Saber o peso da cruz
Sofrer a cada queda do tempo
É a vida, meu patrão
Só sabe o seu valor
Quem não tem nem sempre o pão
Quem não vê, dos outros, o amor