Um poeta do morro
Eu nasci no morro, mas cresci versando;
Vi os meus amigos
Tortos e cheirando
Toda a adolescência sem qualquer abrigo.
Mas na poesia eu encontrei guarida
E desci pro asfalto
Pra versar a vida
E esquecer as dores lá do alto.
Afastei perigos e sonhei amores;
Aprendi mais versos;
Acolhi as flores
E senti perfumes vivos do Universo!
Eu cantei a gente humilde da cidade
Que não tinha sorte,
Mas puxava lajes
Relutando forte e retardando a morte!
Eu levei a força, a luz, a poesia;
Sugeri as críticas,
Sempre ao dia-a-dia
De uma gente pobre com promessas líquidas...
Aguentei, no peito, o fraco resultado
Desse meu protesto
E escrevi, calado:
“Incultura – O livro do meu povo”, em versos...