A Saga do Menino do Terminal
A Saga Menino do Terminal
Todo dia que eu passava
pra pegar a condução
pro menino eu olhava
E me dava compaixão.
A mãe sentada na rua
com a criança enrolada
pedia ajuda pra lua ...
pra quem via na calçada.
A fome é triste, seu moço
e só quem tem, pode dizer:
que muitas vezes até osso
no lixo, se vai lá pra comer.
Cresceu o pequeno menino,
e sempre em tom educado
entrava no ônibus, e ladino
pedia: Por favor, um trocado?
... Falava uma ladainha,
para quem então o ajudava
e o Pai nosso e salve rainha,
dentro do ônibus rezava.
Eu sentadinha no banco
sempre perto da janela,
dizia-me no solavanco:
Meu Deus, que vida aquela!
Passou o tempo e a vida,
e eu não tirei da lembrança,
aquele olhar sem comida,
daquela humilde criança.
Levada pela nostalgia,
já adulta, fui ao terminal
e perguntei a quem via,
sobre o menino, afinal.
Eis, que um homem levanta
a voz, e então me espanta
por sua tamanha emoção.
Diz então que está lembrado
daquele menino coitado,
... vítima de exploração.
Diz que o pai e mãe bebiam,
... e que no menino batiam
forçando-lhe a pedir esmola.
deixaram-lhe sem caridade,
vagando roto pela cidade,
sem amor, sem lar e escola.
Diz que o menino crescera
na vida, sem eira nem beira
e foi pro caminho perdido.
Conheceu a droga maldita,
e na vida que o filme imita:
Morreu, na mão de bandido.
Eu atenta em cada palavra
que aquele homem falava
com dor em seu coração,
no meu peito também doía
saber que um menino morria,
por pura e severa omissão.
Faltou a família, o estado,
e a sociedade do lado....
daquele que cresce assim.
Sei, que a vida imita a arte,
mas vou fazer a minha parte,
pra fazer ... um outro fim!
Edenice Fraga