SUAVE É A NOITE II - QUARENTENA: Memórias de um País Confinado
Poema modificado para participação no projeto de antologia literária da Chiado Editora, grupo editorial português, na antologia ¨QUARENTENA: Memórias de um País Confinado¨.
SUAVE É A NOITE II - QUARENTENA: Memórias de um País Confinado
O suave e lento anoitecer na cidade pulsante
Trás consigo uma misteriosa sensação de mansidão
Um silêncio atordoante que se faz ouvir distante
No isolamento do casal petrificado nas cobertas em desalinho
Desenhadas nas sombras projetadas pela tênue iluminação
De uma velha lâmpada que acende a apaga no estreito caminho
Como se amedrontada pela virose em ascensão
Ninguém ousa quebrar o silencio da cidade em quarentena
A noite é estranha, diferente, apaga o rastro que condena
Faz da mentira a mais legítima verdade
Nem que seja só por uma noite... noite tão serena
O tempo acabou para duas almas reclusas em seus dilemas
Para os dois não há mais liberdade
A incessante procura da felicidade foi detida pela imunidade
E num novelo interminável de fragilidade, colocaram algemas
Nas mãos que escreviam a mais linda história de cumplicidade
Depois da meia noite o tempo parou
O mendigo invisível com seu cão passou e ousadamente olhou
A fria brisa ameaçadora da pandemia, virou ventania
Mas já estava amanhecendo
E apesar do vento, a manhã é outro momento
Ou apenas mais um dia?
Marco Antônio Abreu Florentino