Ùlcera

Sempre a omiti, todo este tempo fiquei calado,
talvez esquecimento, incúria.
Mas, hoje você me surge... na lembrança,
sem saudades, também sem mágoas.
Você veio sorrateira, timidamente
chegou, gostou e se fez dona, locadora.
As vezes, que inocência, pensava que você tinha partido,
mas, que engano, lá estava quente e assanhada.
Foram onze anos de posse,
você, pelas leis, poderia ter impetrado um mandato,
em seguida, teria direitos pelo “uso capião”.
Sua irreverência é que me aniquilava,
sempre me procurava na hora errada.
Ah, minha cara e doce, quase angelical amiga,
das horas, dos momentos de terror;
você, com sua intolerância me fazia sentir vivo,
naquele comodismo de praia e marasmo.
Por fim, você não adquiriu seus direitos,
busquei eu um bom juiz, este a condenou;
que pavor, morte lenta, sem absolvição.
Foram sete meses onde sofremos juntos,
eu lutava contra a fome e você contra a morte.
Hoje a relembro e bendigo sua ignorância em leis,
se não, aqui, em vez de um barraco,
existiria um espigão, pra minha má sorte.