SEVERINO
Teu nome é Severino, amigo
nome de gente que sofre
que padece, chora e, ainda,
que sorria sob o céu índigo
morre de velhice, antes dos trinta
Teu nome é força, luta e vigor
tuas mãos aram a terra
terra que jamais será tua,
pois mais intangível que a lua
nesse mundo de tanto horror
Teu sotaque é cheio do teu povo,
do amor que tua gente exala,
que gorjeia ao tempo que farfalha
e acolhe indistintamente
quem toma teu canto como renovo
Quando teu olhar fita o horizonte,
busca não apenas o porvir,
ou o que possa e deva fazer,
mas algo que lhe aplaque a fome,
e não deixe teu corpo perecer
Quando amas, ah!, sertanejo
teu coração, mesmo calejado,
como tuas mãos nesse arado,
exulta e todo se derrama,
bate forte por quem ama!
És Severino, pode ser de Maria,
de qualquer coronel Zacarias,
pode ser até que morras
“de fome um pouco por dia”
mas és o Severino da labuta
O Severino que não foge da luta!
Que cava a cova com as próprias mãos
o Severino que não conhece o mal,
e que, como dito por João Cabral
não conhece senão
as lutas de sua própria vida,
de morrer de doença e fraqueza,
em meio a tantas, tantas riquezas
que poderiam, sem qualquer esforço
tornar mais leve a sua lida.
Mas vai, Severino!
Tenta a tua sorte!
Pois quem venceu a fome,
facilmente engana a morte!
Aos Severinos que semeiam nossa pátria!
E uma homenagem a João Cabral de Melo Neto, o maior Poeta do Brasil!