O HOMEM DO SERTÃO
O HOMEM DO SERTÃO
O homem não tem seu chão
Não tem caneta na mão
Nem sabe o que é isso não
Só conhece a Lei do cão
Que lhe tira do prato o pão...
O homem não tem seu chão
Nunca viu avião
Pensa que trator é assombração
Confia em Deus e em facão
Pede bença ao patrão
Que toma-lhe a filha pelo feijão...
Um dia já carcomido
Tendo seu bando desnutrido
É bando, família é pra homem lido
É banido é varrido
Do seu rancho tão querido
Do seu único abrigo...
Se vê em desorientação
Pensa que tá sózinho, tá não
Debaixo de um solão
De mala e cuia na mão
em fila de procissão
Pra mais de um milhão
Integra-se na multidão
Dos que perderam seu chão
Mas não perderam o facão
E o dom da oração...
Ao longe o maquinário
Deita seu braço sanguinário
Esmaga o esquecido canário...
E finca-lhe nas rugas o cenário
E a sensação de otário
Que sempre confiou em vigário...
E o homem vira massa
Volta pra trás na raça
Pega na foice
Dá coice...
E no lado de cá, no mundo do plim plim
Um bando de alfenins
Com faces de carmim
Correm lá pra´queles confins
Emitir seus boletins
Discutir em "botekins"
As audiências do motim...
E em índice global
Com projeção nacional
Até internacional
De forma irracional
Altamente inconstitucional
Fazem do morto um imortal
Com direito a funeral
A filme e comercial
Até o próximo carnaval...
Mas o filho do homem
Doentinho terminal
Continua a lida
Adubando com suas lombrigas o milharal
Adubando com suas lombrigas o canavial...
Dorothy Carvalho
Dedicado ao Mestre do Direito Agrário
Professor: Oswaldo de Alencar Rocha "In Memoriam"