Bullying

Nas escolas em geral
É prática regular
Nos colegas se por apelido
E por esse nome o chamar.
É um gesto de afeto
Ter um amigo por perto
Com ele poder conversar.

Já dizia meu avô
Em sua sabedoria popular
“Apelido só pega mesmo
Se dele você não gostar;
Se te chamarem de Zé,
Meu amigo, ponha fé,
Assim é que vão te chamar.

Diminutivos são usados-
Zezé, Lu e Aninha –
Pelos amigos bem próximos
E também pela família
É assim que a mãe
A tia e a avó
Chamam a criancinha.
Mas às vezes acontece
De o apelido não agradar
De ser dado por ofensa
Pra insultar ou incomodar.
Nesse caso, uma observação
Pode ser feita de coração
Pra essa história começar.

Características físicas não podem
Virar nome ou apelido.
São detalhes pessoais
Que cada um traz consigo.
Nem servem para fazer
Com que alguém possa ser
Melhor do que seu amigo.

Na escola onde eu estudo
Tem gente de todo jeito
Cada um com suas virtudes
Cada um com seus defeitos
Porque todo mundo sabe
Isso é uma grande verdade
Que ninguém é perfeito.
Tem gente de cabelo liso
Ou de cabelo encaracolado
Tem gente que toca o terror
E outros bem comportados.
Tem quem respeita o professor
Quem é aconselhador
Quem sempre chega atrasado.

Tem mulato, moreno e branco
Tem da cidade e do interior
Tem gente que é “santo”
Que só fala em paz e amor,
E tem menino que é grande,
Nesse sentido, não se espante,
Tem sujeito questionador.

Tem gente que é revoltada
Pelos problemas sociais
Que traz todo dia de casa
Problemas que vive com os pais
Tem gente que sofre injustiça
Tem quem vai sempre á missa,
E tantos tipos mais.
Tem gente que mora no centro
Ou em bairros afastados
Que vem pra escola de ônibus
E às vezes chega empoeirado;
Tem quem fala muito,
Toda hora é um assunto
E prefere ficar calado.

Quem traz a tarefa pronta
Quem sempre tem certa a resposta
Quem gosta muito da escola
Quem da escola não gosta
Tem quem estuda pelo lanche
Tem quem gosta de estudar
Ou porque isso é regra imposta.

E na tua escola?
Como é a situação?
O professor explica
Muito bem a lição?
É uma escola de excelência?
E como é a convivência
Dos alunos, professores e direção?
Pergunto isso porque quero
Te contar uma história
De algo que aconteceu
Comigo na minha escola
E por ser algo esquisito
Por eu não achar bonito
Guardei a lição na memória.

Na escola onde eu estudo
Há um sujeito valentão
De todos é o mais alto
E também o mais fortão
Além de facilmente se irritar
Querer ser popular
É sua intenção

Por isso dentro da sala
De uma coisa ele faz questão
De ter o domínio da turma
De ter todos em sua mão
Essa fama ele conquista
Sendo grande chantagista
Falando alto e dando empurrão.
Ele também fala muito
E murmura sozinho
Praguejando entre os dentes
Em sussurro, bem baixinho:
Calúnias e ofensas
Ele diz como pensa
Em seus murmurinhos.

Na frente da professora
É discreto e calado
Me atrevo a dizer
Que é gentil e educado
E costuma ficar em seu lugar
A refletir e a pensar
Às vezes triste ou desanimado.

Mas quando a professora não vê
As coisas que ele faz
Só ele mesmo sabe
De tudo o que é capaz
Ele ameaça nos bater
Se a gente não lhe obedecer
Assim rouba a nossa paz.
Quando alguém não lhe obedece
Se sente desafiado
Durante um instante fica
Pensativo e irritado
Depois pra cima do sujeito
Cresce e estufa o peito
Num gesto acovardado

E o coleguinha se acanha
Na cadeira a se afundar
Como se na sua frente tivesse
Um leão a lhe acuar.
Sem saber o que fazer
Resta ao pequeno dizer
Queima me desculpar.

Quando eu cheguei na escola
Logo vi o que acontecia
Mas como ele era mais forte
Eu também não me defendia
E por medo de apanhar
Não me atrevia a falar
O mal que ele me fazia.
Eu sempre fui gorda
Basta olhar e ver
Os apelidos que ele me dava
Nem é preciso dizer
De gorda, saco de areia
De hipopótamo e baleia
Ele vivia a me ofender.

E eu corria para o banheiro
E ali me punha a chorar
E sentia vergonha de mim
De mim não conseguia gostar.
Porque eu era diferente?
Era uma pergunta na minha mente
Que eu não conseguia evitar.

E passei a ficar em casa
Sem vontade de sair
Não queria brincar com ninguém
Não saía pra me divertir
Me sentia gorda e feia
Como se fosse mesmo baleia
E vivia a me reprimir.
A minha mãe percebeu
Que mudou meu comportamento
Pois ela sempre teve
Em mim um olhar atento
E ela percebeu
Que no fundo dos olhos meus
Vivia um triste pensamento.

Como quem ama e cuida
Ela procurou a direção
Contou o que estava acontecendo
E pediu uma explicação
Como uma criança risonha
Fica quieta e tristonha?
Pra isso tem explicação?

A profª. não sabia
A nada disso explicar
Mas prometeu à minha mãe
Ficar atenta e observar.
E pediu aos seus amigos,
Os que mais conviviam comigo,
Para também me cuidar.
Aos poucos a professora
Toda a trama foi descobrindo
E chamou os pais do valentão
Para falar sobre o menino
E para falar do assunto
Pai e filho, os dois juntos,
Na direção foram se reunindo.

O relato de minha mãe
Foi o primeiro relato
E logo se esclareceu
Que o caso era de fato
Um caso a ser estudado
Pois o bullying era praticado
E precisava ser solucionado.

Quando o pai soube
Do filho o comportamento
Com ele foi severo
Não esperou um só momento
E uma surra bem dada
Com castigo de enxada
Ao garoto foi prometendo.
O pai falava alto
Era ríspido e autoritário
E bastante dominador
Em seu vocabulário
E prometeu, sem doçura,
Que o filho iria mudar a postura
Ter comportamento contrário.

“Se eu tiver que voltar aqui
Para tratar desse assunto
Te faço uma promessa,
Te juro de pé junto,
Que te dou uma surra bem dada,
E te cubro de pancada
Na frente de todo mundo.

Assim encerrou a conversa
Sem outra explicação,
Esperando que o filho
Compreendesse a lição.
Sem, porém, compreender
O que o menino poderia fazer
Na alma e no coração.
Pra encurtar a conversa
Vou resumir esta narração
E dizer que por uma semana
O caso teve solução.
Ninguém teve apelido
Ninguém foi ofendido
Pelo menino valentão.

Mas só por uma semana
Depois tudo piorou
O falso respeito adquirido
De repente evaporou.
Sem temer o retorno dos pais
Ele nos ofendeu até mais
E também nos ameaçou.

E uma outra menina
Bem mais sofreu na sua mão
Por causa do cabelo,
Veja só esta questão,
Num momento de atropelo
Bem curto cortou o cabelo
Façamos uma anotação.
E por faltar à garota
O traquejo feminino
Por não ser muito vaidosa
Em seu figurino
Assim pensou o Valentão
E a chamou de João
Dizendo que parecia menino.

Foi brincadeira sem graça
Mas a turma toda riu
E constrangida da classe
A menina Maria saiu.
E quando ela voltou pra sala
De novo, na mesma fala,
O nome se repetiu.

Não era só o menino
Que a chamava desse jeito
Até eu, por diversão,
Me dava esse direito
Achando que era divertido
A chamar por esse apelido
Sem notar o meu malfeito.
Em poucos dias, Maria
Entrou em profundo desgosto
Não queria mais estudar
Às vezes escondia o rosto,
E se ainda estudava
Era porque a mãe lhe obrigava
E ela ia a contragosto.

Para mostrar que não gostava do apelido em questão
A todos ela ofendeu
Com um feio palavrão
E se alguém insistia
Ela gritava e partia
Também para a agressão.

A mãe dela foi chamada
Para a sala da direção
Uma, duas, três vezes,
Para advertência e suspensão.
E só para ver ela brava
Muito mais a gente a chamava
De menina Maria João.
A gente assim o fazia
Em parte porque gostava
Em parte porque notamos
Que o valentão da sala
Enquanto irritava Maria
De nós ele se esquecia
E não nos incomodava.

Porém, chegou o dia
Em que Maria não veio.
De sofrer humilhação
Ela estava com receio.
Disse que não queria estudar
Pra escola não ia voltar
O caso estava feio.

A mãe dela ainda insistiu
Mas de nada adiantou.
Maria estava ferida
Pra escola não voltou.
E a brincadeira da aparência
Teve triste consequência
Os estudos ela abandonou.
Todos os pais foram chamados
Para uma reunião
E o bullying foi o assunto
E a pauta da discussão.
Pois a boa convivência
Exige respeito e paciência
E não tolera a discriminação.

Fomos orientados a parar
Com as brincadeiras ofensivas
E em conjunto com a professora
Criamos regras de disciplinas.
Pois o respeito e a autoconfiança
Devem ser da criança
Direito, dever e rotina.

A professora também sugeriu
Exemplos de liderança
Para assim reforçar
A nossa segurança
E dar o pontapé inicial
No nosso reforço pessoal
Para a nossa mudança.
Os pais foram orientados
A ficar sempre atentos
E a colaborarem com a escola
Nesse fortalecimento
Das habilidades morais
E dos valores sociais
Em todo e qualquer momento.

Quanto ao aluno valentão
Vai aqui uma observação.
Para conhecer o bullying é preciso
Conhecer sua motivação.
Mais popular querer ser
E uma boa imagem de si obter
Estão na causa da questão.

Um ponto mais importante
É preciso observar
Quem pratica o bullying
Pode ter histórico familiar.
Em sua casa a violência
Pode ter fixa residência
Num histórico peculiar.
Para toda essa família
Que da violência sofre vendaval
A orientação deve contar
Com ajuda especial.
Sem qualquer hipocrisia
De um profissional de psicologia
Para não parar no tribunal.

Tem gente que faz guerra
E reage a uma agressão
Mas esse problema
É mais simples a solução
Relatar o ocorrido
Aos pais, professor ou amigo
Vale mais que outro empurrão.

Agora, na minha escola,
A paz reina absoluta
Pois o diálogo e o respeito
Fazem parte de nossa conduta
Pois a boa convivência
E o exercício da paciência
São bens que se desfruta.
Agora me diga você
Que também é estudante:
Você também acha
Que evitar o bullying é importante?
Você já sofreu agressão?
Ou algum tipo de intimidação?
Ou apelido humilhante?

E na tua escola?
Como é a situação?
O professor explica
Muito bem a lição?
É uma escola de excelência?
E como é a convivência
Dos alunos, professores e direção?

Características físicas não podem
Virar nome ou apelido.
São detalhes pessoais
Que cada um traz consigo.
Nem servem para fazer
Com que alguém possa ser
Melhor do que seu amigo.

QUESTIONÁRIO
1) O que é bullying?
2) Porque se pode afirmar que a escola é um espaço de diversidade?
3) Porque o “valentão” humilhava os colegas? O “valentão” era mesmo valente?
4) Como a narradora se sentiu prejudicada pelo bullying?
5) Porque Maria abandonou a escola?
6) Como a professora agiu para resolver o problema?
7) Como os pais podem colaborar para resolver o problema do bullying?
8) Porque o histórico familiar incentiva o “valentão” a praticar o bullying?

Chapadão do Sul - MS, 22 de janeiro de 2020