Menina Ágatha
Acabou-se um sonho!
De teu corpo negro
esvaiu-se a vida, menina
e naquele dia tristonho
de tamanho desespero
sofremos tua partida.
Não morreste nas ladeiras de Ouro Preto
morreste porque eras preta
dentro de uma Kombi, no Alemão
não por ser uma suspeita
mas por não ser filha do patrão.
Entraste para a estatística, princesa,
para os números frios
de dor e de tristeza
que massacram o povo do Rio.
Oito anos era a tua idade
tua vida apenas começava
mas, de repente, que crueldade
uma bala de fuzil te acertara
Pelas costas, foste baleada
numa Kombi, em pleno dia
por uma polícia despreparada
que o Morro do Alemão subia
Covardemente, foste fuzilada
ao lado do teu avô
não por estar no lugar errado
na hora errada
mas pela política do terror
Foi pelo tom de tua pele, sim
por tua classe social
que morreste com tiro de fuzil
disparado por um policial
Teu grito, criança, foi ouvido
e apesar daquele estampido
jamais será suprimido!
Tua morte, que tristeza
só nos traz a certeza
de que o homem está perdido
Tua morte é o retrato da nação
perdida no ódio e na vaidade
quando deveria, na verdade,
buscar a segunda Abolição!
As prisões são as novas senzalas
balas de fuzil, novas chibatadas
só o povo permanece o mesmo:
morto nas ruas, favelas e terreiros.
Mas teu sorriso e teu coração
estarão sempre em nossa memória
e nos resta desejar, então:
vai em paz, doce Ágatha Vitória!
Homenagem a um Anjo, assassinado com tiro de fuzil por um agente do Estado, no dia 20.09.2019!