O índio

Para a tristeza dos que amam o seu próximo, foi noticiado em nossa cidade (Dourados - MS) que os índios de uma aldeia próxima à zona urbana estavam revirando o lixão à procura de alimento. Não me contive e fiz este desabafo que intitulei O ÍNDIO, não se referindo a um índio só, mas a todos os índios nossos que continuam sendo desrespeitados.

Olha o índio

indo e vindo,

com a cabeça baixa

como um animal que procura o alimento.

Esse elemento

procura desvendar o futuro.

Juro que como mestiço

não consigo profetizar

o que possa melhorar

no viço desta nação

outrora guerreira,

correndo os cerrados

enamorados pelos Campos de Vacarias¹.

Não sei falar a sua língua,

porém ele a minha sabe;

sinto um amargar na minha boca

essa coisa louca

de um pseudo-conquistador

que sente em sua dor

a imposição.

Para que vale a pátria para estes,

se não podem erguer o heróico brado

que retume nas tumbas

dos bravos heróis?

Se o sol que brilha

não é o da liberdade

mas o da crueldade?

Se os da cultura "superior",

em suas ciências

não dão preferências à sua dor?

O perfume da flor de maracujá

já não exala,

e a "dança da chuva" também não fala,

mas nos maus cheiros dos lixões

quando chegam os caminhões

ouve-se o grito:

JAHA JA KARU!!!!²

¹Campos de Vacarias é uma das surbregiões do Mato Grosso do Sul. Levou essa nome por causa do gado de muitas fazendas que ficou disperso com a Guerra do Paraguai. Esse gado era encontrado como um animal selvagem.

² JAHA JA KARU é uma expressão que quer dizer "Vamos comer".

OBS.: Este texto está no livro ETNIAS OLVIDADAS sob o ISBN n°85-98598-20-8

Aldair Lucas
Enviado por Aldair Lucas em 05/10/2007
Reeditado em 24/11/2020
Código do texto: T682167
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