SUJEIÇÃO PASSIVA
Um dia ele nasceu...
Nascera Verbo ou Sujeito?
Em meio às festividades
já sujeitaram-no,
os que acreditavam
-só por batismo-
se poder ser o ator do seu tempo.
Cresceu sujeito por obrigação dos interesses.
Lá atrás aprendeu
a sujeitar-se e então, sujeitou-se!
Era um explícito sujeito do verbo
obedecer sem pestanejar:era o que seria para sempre.
Não percebeu a tempo
a invisibilidade da sua sujeição.
Sujeição epidêmica e imperceptível.
Doença que mata aos poucos.
Era preciso sujeitar-se
ao que ninguém sabia.
Empoderar-se sujeito do meio a qualquer custo.
Custo de vida, inclusive.
Era a lei!
Sujeitar-se ao amargor da leda existência
de se nascer com expectativa de tempo
mas sem expectativa de vida.
Era a lei e o veredicto...mas ninguém sabia.
E se soubesse não adiantaria explicar.
Era preciso ser...Sujeito, S.U.J.E.I.T.O e pronto.
Sem discussão de liberdades!
Assim ele era sem nunca se importar em como ser.
Seguia acéfalo e com pressa,
a acreditar-se ator do seu destino
com a mesma emergência que se tem de existir.
Tipo...
Nem que fosse subsistir em algo,
mas quem se atreveria a sentir diferente?
Então seguiu sujeito, ator aos berros...
sem nunca impostar a voz
no seu inexistente lugar,
naquele texto insípido que nunca lhe fora escrito.
Sujeito que sujeitou-se ao tudo já no igual nada de todos.
Mas sujeitava-se com orgulho de ator coadjuvante,
ponta da peça "pseudo -vida".
Sujeitou-se a nascer, o que já lhe era uma vitória sem tamanho
mas sem glória alguma.
Nunca se daria conta da sua sujeição imposta,
mascarada de liberdades.
Afinal, fora batizado qual a água impura das inverdades...
Seguia, então, sob sujeição e sem saber.
Sujeitando-se ao livro sem script, ator do nada sem estrelato, sem palco,sem palmas.
Sujeito a todas sujeições disfarçadas do poder das vidas subliminares.
Era o seu grito de guerra já perdida.
Um dia se viu na calçada.
Não na da fama dos que um dia foram, ainda que efêmeros.
No palco das ruas...
Era-lhe impossível até se fechar as cortinas
que lhe nasceram cerradas.
"Mas se todos diziam ser ele o sujeito!"
Qual o epílogo do que não tem roteiro?
Mesmo assim continuava a acreditar.
Às vezes,
acreditar é a unica e possível analgesia da alma.
Sujeito oculto, indefinido, invisível, inexistente?
Sujeito (" ou verbo substantivado") do quê?
Certo dia ...
ele morreu de doença consumada; já bem consumido.
Morreu de sujeição passiva
Em meio à passividade social.
Sujeitou-se ao cabresto dos comandos que chicoteiam
inescrupulosamente, sem dó
o palco das vidas
chegadas e vindouras.
Morreu nunca sujeito, embora sujeito ao tudo...
Onde nunca nem lhe fora permitido existir.
Sujeito: Sequer ao direito de ser simples sujeito,
em meio à total sujeição da própria vida.