Poema sobre um velho bêbado
Ainda que andasse cambaleante
Sabia os passos largos
Um senhor de muita idade
Com certeza com feridas no caminho
Aquele homem me pus a observar.
Primeiro ele olhou o céu
Viu que as estrelas brilham para todos
Sorriu, bebeu, conseguiu se equilbrar.
Depois um pouco de mansinho
Foi se sentando
E então
Na calçada os prantos caíram.
Chorava o homem bêbado
Um velho que voltava a ser criança.
Aos poucos me aproximei
Perguntei o seu nome
Ele me olhou desconfiado
Mas disse "José"
E eu brinquei "homem de fé"
Ele sorriu entre vórtices de lágrimas em seu rosto.
Indaguei sobre a tristeza
Ele disse
"isso há de passar".
O velho me contou a razão do pesar
Aquele era o dia do casamento
O de sua filha.
Não fora convidado
Pois não era bem-vindo
O velho bêbado preferia ter morrido
Pois para ele não havia destino.