MEU JEITO AFRO DE SER...

Eu não queria,
Que houvesse esse dia,
Esse pequeno espaço,
Fragmentos de tangência,
Para a defesa dos meus traços,
Da negra consciência,
Na frequência da densidade.
Eu não queria essa urgência,
Essa tendência do clamor,
Pelas ruas da cidade,
Causar efeito,
Ter que se impor para ser aceito,
No leito da desigualdade.
Eu não queria,
Essa injusta travessia,
Essa alma repleta de indignação,
Esse olhar repleto de interrogação,
Por que esse jeito de superioridade,
Para quê tanta perseguição,
Esse prazer em dizer não à minha cor,
Aos meus direitos...?
O que eu queria,
É que a minha fotografia,
Não refletisse preconceito,
Queria simplesmente ser aceito,
Com o meu jeito afro de ser,
Fazer cada amanhecer valer,
Ter a humana condição.
...Por isso é necessário,
Esse realce no calendário,
Esse modo ativo,
Para que eu possa me sentir vivo...
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 Érica Meira
Terna, negra, criança
Que entra na dança
Pousa no peito
O que há de bom
Eternas lembranças.