Sobre(vida) Negra
Esta poesia foi feita para homenagear um negro velho que avistei do meu escritório. Ele estava capinandoe à frente da casa do meu vizinho de frente. Parei o que estava fazendo, observei-lhe e abri uma nova página e saiu SOBRE(VIDA) NEGRA:
Negro velho levanta com as galinhas
faz o palheiro e pita;
nesta grita, caminha,
engole o outro negro e só.
Não tem pão-de-ló.
Pega a enxada;
as pernas inchadas,
vai pelos bairros.
Alguns a cara entorta,
batem a porta:
"Pode ser mais um pedinte,
e não quero ser ouvinte
desses com os pés no chão."
Acha um anjo, ganha um pão.
Pegou uma data,
se mata de tanto capinar
para o outro pão ganhar.
É tarde e a coluna arde.
Faz a caminhada,
não para perder peso
não é obeso;
chega no barraco,
leva comida pro prato,
compra arroz,
arrocha para o feijão,
trigo para o pão.
Azeite tem, ainda bem!
Frita um ovo.
Colesterol? O que escolher?
De novo espera o arrebol
e lá está ele
com suas feridas
as de dentro e as de fora
e vai embora
não dando mole para a vida.
Este texto faz parte do livro ETNIAS OLVIDADAS sob o ISBN 85-98598-20-8