Sobre corpos
Alguns corpos estão morrendo
Outros fazendo amor
Ínfimos, pela madrugada no labor
Envolto em papelão ou numa cama confortável
Sempre há um corpo a ser salvo
Houve tempos em que achavam
que negros não tinham alma
Mas de seus corpos precisavam
Para expandirem ganâncias
Corpos no cemitério tem mais paz
Que corpos órfãos de pais
Negligentes ou inexistentes
Cada um à seu modo
O corpo do trabalhador, cansado
Rotina, ideais sem como, explorado
O policial e seu corpo morto
No ato de proteger corpos
O religioso prioriza a alma
O corpo do faminto padece do pão
Primeiro o que comer pra depois o sermão
Você viu aquele corpo que caiu da ponte?
Não via sentido em continuar
Não sabia pra quê respeitar
O peso da existência paira em todos
Cada um à seu modo
Carregando seu próprio corpo
À beira de algum descaso
Em favelas o corpo é fuzilado
Uma bala perdida ou arquitetado
Do homossexual é ameaçado
Da mulher é violado, assediado
Cidadão na rua expõe seu
corpo ao perigo
pode estar perto de um sujeito
que não respeita o seu
O grande inimigo do corpo é a morte
Que o faz apodrecer e cumprir seu destino
Mas no meu país quem decide a hora do Inimigo não é destino
São pessoas que não respeitam corpos