Sobre corpos

Alguns corpos estão morrendo

Outros fazendo amor

Ínfimos, pela madrugada no labor

Envolto em papelão ou numa cama confortável

Sempre há um corpo a ser salvo

Houve tempos em que achavam

que negros não tinham alma

Mas de seus corpos precisavam

Para expandirem ganâncias

Corpos no cemitério tem mais paz

Que corpos órfãos de pais

Negligentes ou inexistentes

Cada um à seu modo

O corpo do trabalhador, cansado

Rotina, ideais sem como, explorado

O policial e seu corpo morto

No ato de proteger corpos

O religioso prioriza a alma

O corpo do faminto padece do pão

Primeiro o que comer pra depois o sermão

Você viu aquele corpo que caiu da ponte?

Não via sentido em continuar

Não sabia pra quê respeitar

O peso da existência paira em todos

Cada um à seu modo

Carregando seu próprio corpo

À beira de algum descaso

Em favelas o corpo é fuzilado

Uma bala perdida ou arquitetado

Do homossexual é ameaçado

Da mulher é violado, assediado

Cidadão na rua expõe seu

corpo ao perigo

pode estar perto de um sujeito

que não respeita o seu

O grande inimigo do corpo é a morte

Que o faz apodrecer e cumprir seu destino

Mas no meu país quem decide a hora do Inimigo não é destino

São pessoas que não respeitam corpos

Dhayse
Enviado por Dhayse em 20/10/2019
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