AO SEMEADOR
Em dias úteis, e até nos feriados, do alto dos edifícios do Jardim Oceania, nesta capital, ou caminhando pelas calçadas do Parque Parahyba II, é frequente a visão de um trabalhador braçal, talvez sexagenário, de pé ou agachado, envergando equipamentos individuais de proteção - roupa de tecido resistente, chapéu de abas longas, luvas e botas, além de instrumentos de trabalho - postado na estreita faixa de terra que separa o Logradouro do canal que o banha, abrindo covas, plantando, adubando e regando mudas de espécies diversas, como voluntário jardineiro, trabalho que realiza às suas expensas e à custa de muito esforço e transpiração.
Seu nome, Fernando Aquino Freire, funcionário aposentado do Banco do Brasil, escritor e poeta.
Ocorreu que, sem qualquer motivo aceitável, eis que, em horas noturnas, ainda que não sombrias, dada a farta iluminação da área, algum iracundo desconhecido passou a arrancar regularmente as plantas e lançá-las ao chão.
Foi aí que, de modo admirável e poético, o semeador resolveu usar a sábia estratégia de implantar, ao longo do viveiro, três placas com inscrições apelativas de inspiração ambiental, no propósito de sensibilizar o anônimo predador.
Deu certo.
Assim como surgiu, o algoz desapareceu misteriosamente de cena, quem sabe, constrangido e envergonhado pelo crime ecológico perpetrado.
Dedico estes versos sem poesia ao poeta-Jardineiro.
A Poesia transparece de suas sábias inscrições, que aqui transcrevo:
Às margens do canal do Parque Parahyba,
Abrindo clareiras nos densos matagais,
O Poeta e jardineiro Fernando Aquino
Planta, aduba, irriga e limpa mudas florais,
Bem como, as frutíferas e ornamentais.
Realiza, assim, com seu trabalho voluntário,
Um lazer produtivo e muito prazeroso,
Ecológico,ambiental e solidário.
Eis que anônimo caminhante predador,
Tal qual vândalo, de espírito destrutivo,
Passou a arrancar das covas as tenras mudas,
Em atos selvagens, covardes e instintivos,
Movido, talvez, por cego radicalismo,
Causando indignação, pesares e tristeza,
Por esses gestos ignóbeis de vileza,
Tisnados de criminosos barbarismos.
Mas a grande alma do poeta semeador,
Ao reagir, com sabedoria, à agressão,
Três legendas edificantes afixou,
Buscando sensibilizar o predador,
Quanto à conduta insana, vil e reprovável:
-"Não arranque as plantas!
Pássaros agradecem"
-"Não arranque as plantas!
Abelhas agradecem"
-"Não arranque as plantas!
A vida agradece".
(Sebastião Aires) - 05/10/2019
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
À edificante mensagem, o jardineiro responde:
AOS SEMEADORES
O médico e poeta, Sebastião Ayres,
com sua verve de bardo semeador,
não poupou lirismo, ao deparar-se
com um sem-terra a cultivar amor.
Quem é esse cultivador agradecido?
Outro durázio, seu contemporâneo,
que, zelando pela vida, tem exercido
a ceifa, plantio e prece, simultâneos.
Ceifa de ervas daninhas persistentes,
que se renovam, após cada chuvada,
e sufocam plantas, as mais reagentes.
Aí, haja foiçadas!... E haja enxadadas!
Mas, tem erva mais difícil de se ceifar.
É aquela que, para baixo e para arriba,
carrega as plantas do acero da calçada
em caminhadas pelo Parque Parahyba.
Forma torpe de se exteriorizar o ódio,
retirando a vida das plantas indefesas.
Um ser vil que, em tão triste episódio,
renega o belo que insinua a Natureza.
Plantio do bem é o que mais importa.
Cuidar dos viventes é a maior virtude.
Uns cuidam de aves, outros, da horta
e do humano: cura, saúde, plenitude...
Década de setenta, doutor Sebastião
teve, em seu colo de pediatra, as três
filhinhas desse pai cultor de gratidão.
Dão amém pelo bem que ele lhes fez.
Fez um bem também à humanidade,
ao mudar para linguagem cordelista
vários tratados de sua especialidade,
pra popularizar as teses de cientistas.
Todos os dias, sua esposa, d. Amélia,
alimenta os passarinhos que passam,
atirando miolo de pão da sua janela.
Eles pousam, dão graças e esvoaçam.
Prece: por que não fazê-la no plantio?
Por que não, pela tão ansiada colheita,
ou quando a falta d´água é um desafio,
pros que regam e pros que “carregam”?
Prece por aquele que planta consciente
de que não aspirará o perfume da flor,
nem saboreará os frutos das sementes
que ele tão abnegadamente semeou.
Muito mais preces pelos que nada têm,
pelos que nem podem morar em favela,
mas acham a vida bela (seu único bem)
e, resignados, morrem de amor por ela.
Plantar é amar a vida a cada momento.
A terra se renova se uma planta cresce.
Estimular essa renovação é sentimento
de quem tudo agradece com uma prece.
(Fernando Aquino Freire) - 11/10/2019
Em dias úteis, e até nos feriados, do alto dos edifícios do Jardim Oceania, nesta capital, ou caminhando pelas calçadas do Parque Parahyba II, é frequente a visão de um trabalhador braçal, talvez sexagenário, de pé ou agachado, envergando equipamentos individuais de proteção - roupa de tecido resistente, chapéu de abas longas, luvas e botas, além de instrumentos de trabalho - postado na estreita faixa de terra que separa o Logradouro do canal que o banha, abrindo covas, plantando, adubando e regando mudas de espécies diversas, como voluntário jardineiro, trabalho que realiza às suas expensas e à custa de muito esforço e transpiração.
Seu nome, Fernando Aquino Freire, funcionário aposentado do Banco do Brasil, escritor e poeta.
Ocorreu que, sem qualquer motivo aceitável, eis que, em horas noturnas, ainda que não sombrias, dada a farta iluminação da área, algum iracundo desconhecido passou a arrancar regularmente as plantas e lançá-las ao chão.
Foi aí que, de modo admirável e poético, o semeador resolveu usar a sábia estratégia de implantar, ao longo do viveiro, três placas com inscrições apelativas de inspiração ambiental, no propósito de sensibilizar o anônimo predador.
Deu certo.
Assim como surgiu, o algoz desapareceu misteriosamente de cena, quem sabe, constrangido e envergonhado pelo crime ecológico perpetrado.
Dedico estes versos sem poesia ao poeta-Jardineiro.
A Poesia transparece de suas sábias inscrições, que aqui transcrevo:
Às margens do canal do Parque Parahyba,
Abrindo clareiras nos densos matagais,
O Poeta e jardineiro Fernando Aquino
Planta, aduba, irriga e limpa mudas florais,
Bem como, as frutíferas e ornamentais.
Realiza, assim, com seu trabalho voluntário,
Um lazer produtivo e muito prazeroso,
Ecológico,ambiental e solidário.
Eis que anônimo caminhante predador,
Tal qual vândalo, de espírito destrutivo,
Passou a arrancar das covas as tenras mudas,
Em atos selvagens, covardes e instintivos,
Movido, talvez, por cego radicalismo,
Causando indignação, pesares e tristeza,
Por esses gestos ignóbeis de vileza,
Tisnados de criminosos barbarismos.
Mas a grande alma do poeta semeador,
Ao reagir, com sabedoria, à agressão,
Três legendas edificantes afixou,
Buscando sensibilizar o predador,
Quanto à conduta insana, vil e reprovável:
-"Não arranque as plantas!
Pássaros agradecem"
-"Não arranque as plantas!
Abelhas agradecem"
-"Não arranque as plantas!
A vida agradece".
(Sebastião Aires) - 05/10/2019
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
À edificante mensagem, o jardineiro responde:
AOS SEMEADORES
O médico e poeta, Sebastião Ayres,
com sua verve de bardo semeador,
não poupou lirismo, ao deparar-se
com um sem-terra a cultivar amor.
Quem é esse cultivador agradecido?
Outro durázio, seu contemporâneo,
que, zelando pela vida, tem exercido
a ceifa, plantio e prece, simultâneos.
Ceifa de ervas daninhas persistentes,
que se renovam, após cada chuvada,
e sufocam plantas, as mais reagentes.
Aí, haja foiçadas!... E haja enxadadas!
Mas, tem erva mais difícil de se ceifar.
É aquela que, para baixo e para arriba,
carrega as plantas do acero da calçada
em caminhadas pelo Parque Parahyba.
Forma torpe de se exteriorizar o ódio,
retirando a vida das plantas indefesas.
Um ser vil que, em tão triste episódio,
renega o belo que insinua a Natureza.
Plantio do bem é o que mais importa.
Cuidar dos viventes é a maior virtude.
Uns cuidam de aves, outros, da horta
e do humano: cura, saúde, plenitude...
Década de setenta, doutor Sebastião
teve, em seu colo de pediatra, as três
filhinhas desse pai cultor de gratidão.
Dão amém pelo bem que ele lhes fez.
Fez um bem também à humanidade,
ao mudar para linguagem cordelista
vários tratados de sua especialidade,
pra popularizar as teses de cientistas.
Todos os dias, sua esposa, d. Amélia,
alimenta os passarinhos que passam,
atirando miolo de pão da sua janela.
Eles pousam, dão graças e esvoaçam.
Prece: por que não fazê-la no plantio?
Por que não, pela tão ansiada colheita,
ou quando a falta d´água é um desafio,
pros que regam e pros que “carregam”?
Prece por aquele que planta consciente
de que não aspirará o perfume da flor,
nem saboreará os frutos das sementes
que ele tão abnegadamente semeou.
Muito mais preces pelos que nada têm,
pelos que nem podem morar em favela,
mas acham a vida bela (seu único bem)
e, resignados, morrem de amor por ela.
Plantar é amar a vida a cada momento.
A terra se renova se uma planta cresce.
Estimular essa renovação é sentimento
de quem tudo agradece com uma prece.
(Fernando Aquino Freire) - 11/10/2019