Esse todos nós

E lá vai:

O Zé

O Biu

O Tonho

Um desses qualquer

Que valorizam o sonho

De ter uma panela cheia

De não ver o rosto tristonho

Da mulher

Do filho

Da mãe

O Zé

O Biu

O Tonho

Que somos nós

Cada um de nós

Que sabe o peso que tem

A pedra atada ao pescoço

O alvoroço que é

Na beira do rio

Na hora de pescar o almoço

No mato cortar cana

Pra adoçar a vida garapa que escapa

Enquanto o chicote esculacha

Enquanto o feitor lhe baixa o relho

E os homens no poder lhe solapam os direitos

Esse Zé

Esse Biu

Esse Tonho

Fortes em comum

como a tanajura que lhes serve de alimento

Trazem em si a grandeza e a dignidade do homem

Nas marcas que trazem no corpo

Nas cicatrizes que carregam no pensamento

Essa que é desprezada nas altas rodas

Nas quais negociam futuros

Por alguns papéis, algumas notas

Nas quais entregam os frutos da nação

Que esses homens produziram

E deixam bem à mostra a terra sulcada em desigualdade