País do futuro
O país do futuro virando fumaça
Enquanto nos céus a rota dos helicópteros traça
Mais uma história de dor e luto na cidade maravilhosa
E o silêncio é uma coisa espantosa
Cadê os gritos de protesto do cidadão de bem?
São pró-vida quando a decisão é sobre o feto
Mas a criança da favela? Não querem ver por perto
Na bienal, um gibi escandaliza mais
Do que um povo que não tem mais paz
Nas escolas paulistas
Apostilas recolhidas por pessoas pseudo-puritanas
A milícia ameaça e já temos exilados
Quem entende alguma coisa olha pros lados
E tenta acordar a nação de zumbis
Que aplaudem o sangue pelo chão
Que aplaudem o desmonte da educação
Não é esse o futuro que eu quis
Mas é esse o futuro que tenho agora:
Escrever, gritar, colocar pra fora
A indignação de saber que pra tantos
A violência é motivo de aplausos
E o amor deveria ser contra a lei
Enquanto a ministra pede união contra o feminismo
Outros “ismos” destroem uma nação
Racismo, fundamentalismo
Um verdadeiro tiro no coração
E eu não sei
Se ainda vai sobrar
Alguma história pra contar
Se essa guerra contra a periferia
Um dia vai acabar
Se ainda vai haver alguém por aqui
Quando o tal cidadão de bem acordar
Quando entender que Deus, pátria e família
Deveriam acolher todos os deuses
Todas as pátrias, todas as famílias
E não apenas aquelas das novelas.
Ah! País do futuro... Como tudo ficou tão inseguro?