Violência e Flôres

A pedra fere, a bala mata.

As flôres enfeitam a morte.

Ferida e corte é falta de sorte,

De quem vê e se cala.

A chuva lava o sangue que corre na mata.

A mesma chuva lava o sangue nas ruas.

A dor, a bala que matou o índio,

O negro na senzala.

Bala achada que mata o pobre, o trabalhador.

O mar vermelho rega a mata.

Onde nasce plantas e flores.

Que cura feridas, doenças.

Do índio, do negro, do pobre do rico.

Que alimenta a indústria de drogas.

Que alimenta a elite, a corte dos nobres.

Desde os tempos coloniais.

Comprimidos, líquidos, cápsulas, injeção.

Que acabam com as dores, a solidão.

E dão cores ao sofrimento, a escuridão,

Dos loucos sem salvação.

Tudo é de interesse da nação.

Pra enganar o povão.

E no fim, tudo acaba em flores.

Seja no congresso ou no cemitério.

Na mata, no campo ou na cidade

Flores que enchem de cores e vida.

O mundo do povo que sofre de verdade.

Antonio Candido Nascimento
Enviado por Antonio Candido Nascimento em 16/08/2019
Reeditado em 04/09/2019
Código do texto: T6721639
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