O homem de barro
O viaduto ganhou alma e passou a ser morada
Seu habitante não é apenas mais um
Tem aparência incomum
As longas vestes, a pele, os cabelos
são tão ocres quanto o chão em que se deita
Todos o vêem mas ninguém espreita sua solidão
Como se fosse uma entidade
ele não come, procura coisas
ele não dorme, apenas aquieta-se
Se dormir vira ser inanimado
e deixe de existir
Ninguém sabe ao certo quem ele é
Pode ser um maltrapilho
ou um nobre abnegado
Há quem diga que ele é um profeta
cuja escultura ganhou vida
Muitos afirmam que se trata
da exata tradução
da loucura de um poeta