CIDADÃO

CIDADÃO

Um corpo ali caído,
          estalado no piso-chão,
o sangue quente escorre,
          ebriando a multidão,
no salto sorrateiro,
          corre fugaz o tal ladrão,
na esquina alheia a tudo,
          a meretriz por seu tostão,
no átomo da meia rua,
          ouve-se voz e violão,
enquanto a escuta range,
          vem a sirene abrindo vão,
será mais um ditado,
          infeliz morte de um cidadão;

Pacato por bem-querer,
          agredido sem motivação,
a noite nos jornais,
          notícia em rádio e televisão,
e de pronto todos concordam,
          que da infeliz situação,
não era o ponto de partida,
          pra receber a extrema-unção,
mas a glória de quem foi,
          aquele nobre cidadão,
era de um pai-trabalhador,
          que voltava do ganha-pão...
e vistas folhas d'ouro que do céu se derramam,
          entre pausas de antemão, 
o lamento da família,
          que agora em coro chora (sem rimas),
          e se volta eterna em solidão.

(retratos de uma sociedade ... que em poesia, marca uma tragédia um pouco menos doída).


-x-x-x-
Poema Subsequente-Subliminar (sem título)

Por que eu?
por que tu?
por que ele?
por que nós?
por que vós?
por que eles?
propositivas indagações;
furtiva-objetiva resposta:
Porque sim, você!