Privilégio

Você pode sair sem ter hora pra voltar. Você pode pedí-la pra namorar. Sua mãe não te manda fechar as pernas. Você não sabe do salto perdido da cinderela.

Seu pai tem orgulho da sua masculinidade. Suas revistas sujas, de páginas coladas, é virilidade. Sua primeira vez não rompeu seu prepúcio. Sua vontade é considerada como impulso. Você não espera o primeiro amor como se fosse o último. Você não precisa ser sempre dócil e útil. Você não sente o vazio por ter seu hímen rompido. Não sente o vácuo e nem as dores de um coração partido. Você não precisa se conter e dizer, por diversas vezes, o "não". Sua consciência não te perturba por viver de traição. Sua auto-estima não é fabricada por assobios. Seus seios não são tapados, são livres ao arrepio. Seu não é não. Sem receio de demais interpretações. Você não diz "tudo bem" por temer agressões. Você não anda à noite com medo de ter seu corpo penetrado. Sem sua vontade, com seus gritos ecoados. Você não está preso à sua mente e nem às regras sociais. Sente-se bem em iludir, pra ti tanto faz. A sua capacidade nunca é questionada. Sua beleza não vale mais que sua vitória conquistada. Você não precisa estar em casa antes das 22. Você não faz escolhas, pois todas são suas. Você pode falar sobre bórdeis, sexo e putaria. Seu comportamento sexual não lhe traz o rótulo de vadia. Transas seguidas, noites perdidas, corpo sem pudor. Você não será culpado, por ter seu orifício violado, pela roupa que pôr. Você... você... você. Não quero seu lamento nem o seu padecer.

02/02/2017 23:18 h.

Maisalobo
Enviado por Maisalobo em 10/05/2019
Reeditado em 19/07/2020
Código do texto: T6643805
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