POLITICATEU
Deixem-me viver
Frente ao casebre de palha nos mangues
Numa praia qualquer que seja deserta
Moribundo e maltrapilho, não apareçam ofertas
Das funerárias de excessivas gangues
Deixem-me viver
No sertão. Na seca. Em um casebre alagado.
Plantando na terra túmulos e mausoléus,
No olhar tristonho e faminto do tabaréu,
Tapera de currais – caatingas grandes sem gado.
Deixem-me viver
De greve. Desempregado. Sem sindicato.
Na rua atropelado sem documentos.
Preso a qualquer dia e em qualquer momento,
Em relevante protesto e por simples desacato.
Deixem-me viver
No seio de minha mãe. Na favela. Na pobreza.
Pobre coitado de simples sobrenome.
No mar pescando a vida com fome,
E pratos sujos quebrados na mesa.
Deixem-me viver
Desnutrido. Miserável. Desesperado sem mobília.
Doente. Demente renegado. Pedinte de esmolas.
Na fila do SUS. Descendente de públicas escolas.
Analfabeto. Sem profissão. Vivendo de Bolsa Familia.
Só não quero viver na política.
Vereador. Deputado. Senador enfim.
Demagogos de discursos profanos.
Ateus. Ímpios de gestos insanos.
Sem Deus no inferno, que triste fim.