POLITICATEU

Deixem-me viver

Frente ao casebre de palha nos mangues

Numa praia qualquer que seja deserta

Moribundo e maltrapilho, não apareçam ofertas

Das funerárias de excessivas gangues

Deixem-me viver

No sertão. Na seca. Em um casebre alagado.

Plantando na terra túmulos e mausoléus,

No olhar tristonho e faminto do tabaréu,

Tapera de currais – caatingas grandes sem gado.

Deixem-me viver

De greve. Desempregado. Sem sindicato.

Na rua atropelado sem documentos.

Preso a qualquer dia e em qualquer momento,

Em relevante protesto e por simples desacato.

Deixem-me viver

No seio de minha mãe. Na favela. Na pobreza.

Pobre coitado de simples sobrenome.

No mar pescando a vida com fome,

E pratos sujos quebrados na mesa.

Deixem-me viver

Desnutrido. Miserável. Desesperado sem mobília.

Doente. Demente renegado. Pedinte de esmolas.

Na fila do SUS. Descendente de públicas escolas.

Analfabeto. Sem profissão. Vivendo de Bolsa Familia.

Só não quero viver na política.

Vereador. Deputado. Senador enfim.

Demagogos de discursos profanos.

Ateus. Ímpios de gestos insanos.

Sem Deus no inferno, que triste fim.

Ibhere Pimentel
Enviado por Ibhere Pimentel em 05/05/2019
Código do texto: T6639955
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